quarta-feira, 19 de junho de 2013

Aos poucos

Eu quero escrever sobre ansiedade e talvez por isso já tenha tentado várias vezes começar o texto, mas nenhuma delas deu certo. Opa, agora que abri o jogo é mais fácil de emparelhar as ideias. Ansiedade essa que não me deixa concentrar e me paralisa. Ela me detém tantas vezes, porque tantas vezes eu tenho ideias sobre o futuro. Penso em planos que não vão necessariamente se concretizar, mas que na minha imaginação correm alucinadamente. Imagino histórias para escrever, e a ansiedade, cada vez mais, as tornam difíceis de colocar no papel. 

É preciso driblá-la, mas andava frequentemente perdendo a batalha. E, junto com ela, a fé necessária em mim para continuar com os planos, com os projetos, com a vontade de trabalhar. Isso tudo e mais acontecimentos pontuais da minha vida nesse ano me levaram a procurar uma ajuda profissional, no caso uma terapia, para eu aprender a lidar melhor comigo mesmo. Faz pouco tempo que estou me consultando, mas percebo algumas pequenas melhoras. 

Quando falamos de nós mesmos para outras pessoas sempre é benéfico, até mais do que escrever, porque você tem um contraponto, e é quase que obrigado a se compreender melhor no processo. Não é nada fácil, não é nada rápido, porém, é o que vai me ajudar a tomar o rumo da minha vida de volta. Sinto-me um pouco como aquele título do livro do Bukowski: "O Capitão Saiu para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio". Isto é, minha vontade (minha razão de fazer as coisas) parece que foi dar uma volta e deixou todos os pequenos problemas caminharem pela cabeça. É claro que isso não aconteceu de uma hora para outra, estou descobrindo ainda os motivos,as razões (se há realmente elas). 

O que é que passa por nossa cabeça, afinal de contas? Sei que muitos dos nosso maiores medos, receios, estão no inconsciente, e ele escapa nos sonhos, nas falas ditas de arreganho - quando você quer falar algo, mas tem receio e usa o artifício da brincadeira. Acho que no fundo tudo isso passa por me cobrar menos, por me perdoar por alguns erros que cometi, por deixar pessoas irem embora.

Algo me diz que eu levo a vida muito a sério às vezes. Mas, aos poucos, a gente vai ficando mais leve. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobre protestar, gás lacrimogêneo e esperança



Manifestação começou tranquila em frente à Prefeitura Municipal

“Hoje a noite vai fechar”, meu amigo me disse assim que passou o helicóptero por cima das nossas cabeças. Devia ser por volta das 19h30 quando os manifestantes atravessavam a  João Pessoa. Lá na frente dava para ver algumas luzes piscando. A PM? Já havia barreira ali? “Não sei, não sei.”

Do lado de cima, pedaços de roupas, lençóis, toalhas brancas surgiam nas janelas, voando calmamente. Foram recebidas com empolgação pelos manifestantes. Tudo corria bem, é verdade, desde o começo lá na Prefeitura Municipal.  Perto das 18h já tinha gente pra caramba e a promessa era aumentar.  Havia cartazes, muito mais do que do último protesto -  e muito mais criativos. E as bandeiras, também, é claro. Algumas pessoas enrolaram a brasileira no corpo. Veja só: nada relacionado a futebol.

Depois que começamos a nos locomover em direção a Borges e, em seguida, tomando o caminho da Salgado Filho para descer a João Pessoa dava para ver a verdadeira extensão da manifestação.  Não tenho os dados de quantos compareceram, mas, com certeza, foram mais de dez mil.

“Caramba, é muita gente”, eu disse em voz alta para ninguém ouvir. Ficou perdido entre os gritos ecoados pelos manifestantes. Mas para que gritavam?  Contra o que era esse protesto? Eu estava mais interessado nas perguntas do que nas respostas no momento. Talvez porque eu seja jornalista, talvez porque acredite que, como cidadão, só o fato das pessoas saírem para a rua e mostrarem sua indignação já é válido. É claro que a coisa não é tão simples assim, mas seja lá pelo o que você esteja protestando, ir para a rua já é um começo. Aqui em Porto Alegre, pelo menos, protestávamos pelo transporte público, pela mobilidade urbana, pelo ato de poder protestar sem termos a nossa liberdade roubada, ou violentada.  Para que possamos andar com vinagres. Protestávamos para que pudéssemos continuar.

Quando desembocamos na Ipiranga, foi que o protesto, até então pacífico, começou a degringolar.  E aqui é bom fazer um adendo. Não sei qual a opinião de vocês sobre atos de vandalismo, mas procuro observar isso dentro de um contexto. É muito fácil chegar a uma rede social e intitular tal grupo de vândalos e baderneiros, porque depredaram instituição, patrimônio público, etc. Compreendo os ânimos alterados, mas pelo menos onde eu estava, lá perto do prédio da Zero Hora na Avenida Ipiranga os policiais pegaram pesado com o armamento de gás lacrimogêneo, balas de borracha, etc. Um grupo estava enfrentando um pelotão de choque no lado da Ipiranga em que fica a Zero Hora. Eu me encontrava do outro lado, filmando. Tempos depois eles começaram a atirar as tal bombas de efeito moral para o nosso lado. Uma caiu perto de mim. Encarei pela primeira vez a fumaça branca e densa. A primeira sensação é a de asfixia,a garganta fechando. Daí vem o impulso da tosse, sobe o asco, sobe a vontade de expelir algum líquido. Ânsia de vomito. Os olhos formigam, ardem, lacrimejam. A multidão corre, alguém grita para não correr, mas é difícil muito difícil não correr. Perco-me dos meus amigos, mas ainda tenho um pouco de vinagre no cachecol preto de guerra. Afinal, é uma cena de combate.

O vinagre ajude a recuperar o ânimo depois de um tempo.


É revoltante, é claro. Depois disso, vi muitas pessoas mais a frente comentando que violência deve se combater com violência. Depois disso, vi muito dos “revoltados, anarquistas, vândalos” ficarem ainda mais putos da cara. Foi aí que voltando para a João Pessoa vi cenas exageradas e que na hora, com o sangue fervendo, quase apoiei, quase aplaudi. Ônibus  foram apedrejados, muitos containers foram queimados, vidros de lojas quebrados...Não soube de saques, mas não duvido que tenham acontecido.Veja só: não estou legitimando a ação desse pessoal ( que eram minoria), estou dizendo que consigo compreender que ação truculenta da Brigada Militar incitou – e muito – a revolta de quem já queria fazer merda. Não acredito que violência se responda com violência, mas esse sou eu. Nesse momento, me dei conta que a sede da Zero Hora na Avenida Ipiranga é o lugar mais protegido do Estado, quiçá do Brasil, já que em Brasília os manifestantes chegaram no CONGRESSO NACIONAL , em São Paulo no Palácio da Justiça, aqui mesmo chegamos no Palácio da Justiça. Mas não se consegue protestar em frente ao prédio da Zero Hora.

Momento de depredação de um ônibus na João Pessoa
Dentro da própria manifestação não havia uma unanimidade. Presenciei uma quase briga pós o “combate” com os Policiais Militares entre dois manifestantes. Quando um grupo dos “revoltados” virou um container, logo veio outro grupo e foi levantar a lata de lixo gigante. Alguns aplaudiram a atitude, outros vaiaram. Então chegou um dos revoltados e foi tirar satisfação com um dos caras que levantou o container, alegando que ele estava deslegitimando toda a manifestação com aquele ato. Que os "porcos" estavam jogando bombas e que derrubar o maldito container era, de certa forma, uma resposta. Ainda não sei o que pensar sobre isso.

Alguns grupos se separam, não vi a cavalaria, fui seguindo para o Largo Zumbi dos Palmares na Cidade Baixa, onde aparentemente estava mais tranquilo. Eu já estava cansado, com fome, nauseado por causa do gás e com o tornozelo torcido.  Meu amigo, aquele do início do texto,e eu fomos para a Lima e Silva, pensávamos em qual era a melhor rota para seguir. Estávamos com receio caminhar em nossa própria cidade e sermos parados por algum policial mal intencionado. No fim, deu tudo certo.

Os manifestantes sentados na rua perto do Largo Zumbi dos Palmares
Fui para o protesto com o coração aberto e com o celular ligado, queria fazer uma cobertura bacana. Sincera. Vi muitos amigos meus trabalhando em diversos veículos, e tenho orgulho deles.  Acredito na causa e no lado humano, acho que isso deve ser o norte do bom jornalismo, da boa vida.  Jornalismo nem devia ser profissão, jornalismo é estilo de vida. Esse sou eu, contando um pouco do que vi, com meu modo de pensar. É quase 3 da manhã e não estou com sono, estou, como posso dizer, enérgico. Tem algo de diferente vindo aí. Tem algo que vai furar o concreto, algo que, como uma rosa (diria Drummond), vai nascer do asfalto.